Resenhas


"A beleza da literatura de cordel ganha espaço nas livrarias em um formato sofisticado e muito diferente do que o leitor está acostumado a ver em feiras, praças ou mercados populares.
Caminhos Diversos Sob os Signos do Cordel, de Costa Senna, publicação da Global Editora ao longo de 160 páginas mostra a cultura popular de um dos mais engajados e inventivos autores de cordel de sua geração. A obra organizada pelo poeta Marco Haurélio, conta com as ilustrações características de Jô Oliveira.

Numa escrita simples e direta, os 18 poemas compõem um presente completo ao leitor que aprecia a literatura de cordel: Nas asas da leitura; Lembrando o Brasil caboclo; Sem-terra; Nas quebradas do sertão; Cante lá e cante cá; Viagem ao mundo do alfabeto; Como nascem os provérbios; A voz de Gita; Menina, moça, mulher; A puta e o poeta; O sublime presente; A arapuca feminista; É Pinto nesta eleição; A paranoia da praça da Sé; Tome cinco, camarada; Fim da ambição; A parábola do Semeador; Carta a Jesus.

A publicação valoriza uma das expressões culturais mais populares do Brasil em cada palavra, pois Costa Senna embarca na atemporalidade. "Não é urbano nem rural, pois sua poesia não separa, congrega. Tem um pé na tradição e outro na modernidade e, arrastando seu baú de cordéis e canções, vai aos poucos colhendo os frutos há muito semeados na mais árida das searas: o coração humano", diz o poeta Marco Haurélio, na apresentação da obra.

O poema Nas asas da leitura é o abre-alas da antologia, justamente pelo seu caráter introdutório. Neste, Costa Senna assiste ao nascimento da escrita em uma viagem a um passado distante ao Egito e à China. Como, por exemplo, no trecho (página 17) a seguir:

"Neste cordel falarei
Sobre o meu melhor amigo,
Que me ajuda a encontrar
Lazer, trabalho e abrigo.
Desde meus primeiros anos,
Ele é parte dos meus planos
E segue sempre comigo.

Leio livro em minha cama,
Em ônibus, metrô ou trem,
Em navio ou avião,
Ou mesmo esperando alguém.
Leio para o povo ouvir,
Leio para transmitir
A riqueza que ele tem.

Eu sou amigo do livro
Desde quando menininho.
Ele me dá autoestima.
Na leitura me alinho,
Acho razões pra lutar,
Com virtude, retirar
As pedras do meu caminho.

Há cinco mil e quinhentos
Anos, a Ásia surpreendeu,
Pois, criando o alfabeto
A escrita apareceu.
Veja só que linda canção,
Foi aí dessa união,
Que nosso livro nasceu".

Na sequência de Nas asas da leitura o autor presencia o surgimento do primeiro alfabeto e do papel, e então, surgem componentes importantes para que se perpetuasse a escrita e, consequentemente, o livro.

"Na leitura encontro asas,
Prazer, força pra voar,
Em qualquer cosmicidade
Eu vejo o meu pousar,
O livro é meu transporte,
A leitura o passaporte,
Direito de conquistar"

Embarque na magia desta escrita popular mesclada de características tradicionais e modernas, retocadas por riquíssimas ilustrações em de Jô Oliveira. Não deixe de ler Caminhos Diversos Sob os Signos do Cordel, de Costa Senna!"
Mary Ellen Farias dos Santos - agosto de 2008 (extraído do site www.resenhando.com)




Meu milhão de amigos

"Agora Costa Senna nos apresenta Meu milhão de amigos, ainda recorrendo ao cordel, sua marca registrada e provável melhor meio de expressão.

Neste novo trabalho, o autor se desprende das amarrações verbais, intransigindo na métrica cordelista, em que rimas simples (sem rudimentos de uma falsa erudião vernacular) propõem uma fissura no legado da tradição, indicando caminhos, numa musicalidade repleta de descompassos e dissonâncias, mas riquíssima em ritmo e harmonia.

Mas não pensem os incautos de plantão que seus versos são compostas in albis. O autor de encontros como (...) O mundo é do c(C)riador / A mente que não criou / Viveu e morreu sozinha (...), não poderia jamais estar amiúde no meio do caminho. E o estudo (canto) do p(P)oeta vai ainda mais longe. Em (...) Toco, grito, canto, corro / Não morro mesmo morrendo / Não fujo do compromisso / E creio que vai ser isso: / Eu morro e sigo vivendo, há uma decodificação mais vasta e abrangente, em que o diamante em estado bruto não chega a ser lapidado; antes abandona-se à dura realidade cotidiana, oferecendo-se como cadáver para ser dissecado em incursões metalinguísticas.

O poema não é decupado ao extremo de si para que dele, nós - repectadores em imanência parabólica com o mundo do p(P)oeta - extraiamos a sós toda a essência.

A partir de então, o devaneio permite a manifestações mais sutis, tão inerentes ao humano ser"

Escobar Franelis - poeta e roteirista em apresentação do livro